segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Natureza da Experiência Religiosa

"Ibn-Rushd, o grande filósofo muçulmano, conhecido na Europa como Averróis, estabeleceu claramente a grande distinção entre dois tipos de experiência humana apreensiva: por um lado, nossa experiência da natureza como a reconhecemos através de nosso sentido, de onde vem nossa capacidade de medir e contar (e com essa capacidade tudo o que trouxe no caminho de novos eventos e novas explicações); E, por outro lado, nossa experiência imediata e iminente de algo mais real, menos dependente do pensamento ou dos processos da mente, mas diretamente dado a nós, que eu acredito ser a experiência religiosa. Naturalmente, uma vez que nosso cérebro é material, e seus processos e todas as conseqüências de seus processos são materiais, no momento em que colocamos o pensamento ou a experiência espiritual em palavras, essa base material do cérebro deve dar uma apresentação material até mesmo ao mais alto e a mais transcendente experiência espiritual. Mas os homens podem estudar objetivamente as experiências diretas e subjetivas daqueles que tiveram iluminação espiritual sem intervenção material."

Sultan Muhammad Shah Agha Khan II

Dizem que vivemos, nos movemos e temos nosso ser em Deus. Encontramos este conceito expresso muitas vezes no Alcorão, não nessas palavras, é claro, mas tão belamente e mais ternamente. Mas quando percebemos o significado deste dito, já estamos nos preparando para o dom do poder da experiência direta. Rumi e Hafiz, os grandes poetas persas, nos disseram, cada um à sua maneira diferente, que alguns homens nascem com tais capacidades espirituais naturais e possibilidades de desenvolvimento e têm experiência direta desse grande amor, que tudo abraça, Amor, que o contato direto com a realidade dá à alma humana. Hafiz, de fato, disse que homens como Jesus Cristo e místicos muçulmanos como Mansur e Bayezid e outros possuíram os poderes espirituais do amor maior; Que qualquer um de nós, se o Espírito Santo sempre presente nos concede essa iluminação, pode, sendo assim abençoado, ter o poder que Cristo tinha, mas que para a esmagadora maioria dos homens este amor maior não é uma possibilidade prática. Compensar a sua ausência de nossas vidas pelo amor mundano, humano para os seres humanos individuais, e isso nos dará uma medida de esclarecimento atingível sem a intervenção do Espírito Santo. 

Aqueles que tiveram a sorte de conhecer e sentir este amor humano mundano devem responder a ele apenas com gratidão e considerá-lo como uma bênção e como, a seu modo, uma fonte de orgulho. Acredito firmemente que a experiência superior pode, até certo ponto, ser preparada pela devoção absoluta no mundo material a outro ser humano. Assim, do ponto de vista mais mundano, e sem compreensão da vida superior do espírito, o espírito inferior e mais terrestre nos faz conscientes de que todos os tesouros desta vida, toda a fama, riqueza e saúde podem trazer nada além da felicidade que é criada e sustentada pelo amor de um ser humano por outro. Esta grande graça que podemos ver na vida ordinária como nós olhamos sobre nós entre nossos conhecidos e amigos.

Mas, à medida que as alegrias do amor humano ultrapassam todas as riquezas e poderes que podem trazer um homem, assim faz esse amor maior espiritual e iluminado, o fruto daquela experiência sublime da visão direta da realidade que, com o dom e a graça de Deus, quanto melhor o amor humano mais verdadeiro pode oferecer. Para esse dom devemos sempre orar.

Não, estou convencido de que, através do Islão, através do ideal de Deus, apresentado pelos muçulmanos, o homem pode alcançar essa experiência direta que nenhuma palavra pode explicar, mas que para ele são certezas absolutas. Estou certo de que muitos muçulmanos, e estou convencido de que eu mesmo, tive momentos de iluminação e de conhecimento de um tipo que não podemos comunicar porque é algo dado e não algo adquirido.

Até certo ponto, descobri que os seguintes versículos do Alcorão, desde que sejam entendidos num sentido puramente não-físico, prestaram auxílio e entendimento a mim e a outros muçulmanos. No entanto, devo advertir todos os que a leem que não permitam que sua perspectiva material e crítica invada com explicações literais e verbais de algo simbólico e alegórico. Apelo a todos os leitores, muçulmanos ou não, que aceitem o espírito deste versículo na sua totalidade:

"Deus é a Luz dos céus e da terra. O exemplo da Seu Luz é como o de um nicho em que há uma candeia; esta está num recipiente; e este é como uma estrela brilhante, alimentada pelo azeite de uma árvore bendita, a oliveira, que não é oriental nem ocidental, cujo azeite brilha, ainda que não o toque o fogo. É luz sobre luz! Deus conduz a Sua Luz até quem Lhe apraz. Deus dá exemplos aos humanos, porque é Onisciente." (Surata An Nur:35)

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

CONTO SUFI: O FALCÃO VERMELHO DO REI


Suponhamos que você seja capaz de fazer uma entrevista com Hazrat Lal Shahbaz Qalandar. O que você perguntaria a ele? Talvez algumas de suas perguntas sejam semelhantes às dadas abaixo:

P: Você pode nos dizer algo sobre você?
R: Sim!

P: Por favor, faça isso!
R: Meu nome é Usman Marwandi. Isto implica que eu sai de Marwand perto de Tabriz. Deixei-a no que você chamaria de século XIII.

P: Por que você se chama Lal Shahbaz?
R: Lal Shabbaz significa o falcão vermelho do rei. Eu tive um anseio, isto é, retornar ao Meu Amado. Acontece que um falcão sempre quer voltar para a mão do rei. Eu sempre coloquei um vestido vermelho (lal), então é por isso que eles também me chamaram de 'Lal Sorkh'.

P: Por que tantos hindus visitam sua sepultura em Sehwan (Paquistão)?
R: A primeira razão pode ser que esses hindus têm uma certa abertura de espírito, que os eleva acima das distinções de casta e credo. A segunda razão pode ser que este ponto particular tem sido um santuário de Shiva no passado. As pessoas ainda apontam um linga de Shiva. Mas quem sabe, a terceira razão pode ser que eles estão aqui por causa da comida.

P: Por causa da comida?
R: No momento, pelo menos, 13 irmandades sufis estão cercando meu dargah em Sehwan. Cada uma dessas irmandades organiza uma cozinha gratuita.

P: E por que você se chama Qalandar?
R: Talvez eu tenha sido chamado de Qalandar porque poucas pessoas ortodoxas viveriam como eu fiz dentro de uma árvore oca e mais tarde no bairro das prostitutas em Sehwan? As pessoas pensam que eu não tenho aderido estritamente às injunções religiosas e que tenho seguido o caminho dos censurados como muitos Qalandars. Por outro lado poucas pessoas sabem sobre o meu conhecimento do Alcorão, hadith e fiqh (jurisprudência islâmica), poucas pessoas sabem que eu escrevi poesia em árabe e persa, e que eu tenho sido o califa daquele fiel promotor de valores ortodoxos, Xeque Bahauddin Zakarya de Multan. Ele teve uma aversão intensa por qalandars, mas ele me aceitou e foi ele quem me chamou Shahbaz, que é a espécie mais nobre de falcão. Você pode julgar por si mesmo se eu estou revelando esses últimos fatos mais uma vez, a fim de seguir o caminho da culpa.

Q: Como sobre a exibição de devoção popular, que pode ser visto perto de seu santuário?
R: O Islão é um oceano no qual há espaço para todos. Há tantos caminhos para Deus como há grãos de areia na praia. Um pássaro, digamos um falcão vermelho, demonstra-nos que há muitas maneiras a seu próprio coração.

Quando você está procurando por Deus,
Procure por ele em seu próprio coração.
Ele não está em Jerusalém,
Nem em Meca,
Nem na peregrinação.

Q: Mas este é um poema de Yunus Emre!
R: Ele, claramente, era alguém que era dono de um coração! Quando você entrar no meu dargah em Sehwan, você verá um coração de metal pendurado diretamente acima de minha sepultura. As pessoas dizem que derrama lágrimas como ele amolece para todos aqueles que vêm aqui para encontrar alívio.

Q: Algo mais que você queira nos dizer?
R: Safar-e mubarak! Que a vossa jornada seja abençoada!

A DOUTRINA DO FUTUWWAT

O profeta Abraão é famoso por sua hospitalidade. Os Sufis seguiram esse traço de seu caráter. A hospitalidade é uma virtude coletiva. O termo "futuwwat" significa e implica que um indivíduo deve estar a serviço dos outros. Ele deve abrigar as pessoas, ele não deve machucar ninguém, ele deve suportar com um sorriso o dano ou ferimento causado a ele pelo povo. A adesão estrita a esta doutrina resultou no estabelecimento de um corpo conhecido como fityan na sociedade islâmica. Assemelha-se a um grau marcado por muitas organizações voluntárias e sociais de nossos dias atuais.

O famoso viajante Ibn Battuta (1368) teve em certa ocasião de ver essa organização de  perto. Ele escreveu assim: "Não há ninguém no mundo que os superem em cuidar dos viajantes, em alimentá-los, no cumprimento de suas necessidades e em segurar a mão do tirano. Que Deus abençoe essa organização! Como a organização é generosa! Que sacrifício faz! Com quanto amor trata os estranhos e com quanto respeito e consideração trata os viajantes! Quando um viajante chega a ela, parece que ela chegou a seus parentes mais queridos e amigos!"

Esta organização era uma instituição em si. Estava dotada de certas qualidades morais, sociais e espirituais. Caracterizou-se pela sua generosidade, nobreza e hospitalidade. Uma vez aconteceu que algumas pessoas desta organização visitaram um certo membro. Ele os recebeu e mostrou-lhes a máxima cortesia. Como de costume, eles queriam entretê-los e pediu ao subordinado que esticasse o tapete do jantar. Três vezes o subordinado foi ordenado a fazê-lo, mas ainda a ordem não foi cumprida. 

O homem então perguntou ao subordinado: 

"Por que você procrastina em esticar o tapete de jantar?"

 Ele respondeu: 

"O tapete de jantar estava cheio de formigas e era impertinente da minha parte esticá-lo, cheio de formigas aos convidados - e para mover o tapete de jantar equivalia a privar as formigas de sua subsistência. Daí eu hesitei, até que as formigas se movessem lentamente." 

Ouvindo isso, todos os presentes disseram: 

"Ó, subordinado! Um homem como você só pode nos servir!"

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A HISTÓRIA DAS MARIPOSAS

Certa noite, as mariposas se reuniram, atormentadas pelo desejo de se juntarem à vela. Disseram:

“Precisamos mandar alguém à procura de informações sobre o objeto da nossa busca amorosa.”

Em vista disso, uma delas partiu. Chegou a um castelo e, dentro dele, viu a luz de uma vela. 
Regressou e relatou, segundo a sua compreensão, tudo o que vira. Mas, no entender da sábia mariposa que presidia à reunião, ela não percebera coisa alguma da vela.

Nessas condições, outra mariposa seguiu caminho do castelo. Tocou a chama com a ponta das asas, mas o calor a fez recuar. Como o seu relatório não fosse mais satisfatório que o da primeira, a terceira mariposa partiu. Esta, bêbada de amor, atirou-se à chama; empolgou-a com as patas dianteiras e uniu-se alegremente a ela. Abraçou-a toda, e seu corpo ficou vermelho como o fogo. A mariposa sábia, que observava a cena de longe, ao ver que a chama e a mariposa pareciam uma só, disse:

“Ela aprendeu o que desejava saber; mas só ela compreende, e nada mais se pode dizer."


Fonte: Conferência dos Pássaros de Attar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O SONHO DE ABU NUR



Havia um certo homem conhecido como Abu Nur que residia em Mumbai na Índia. 

Uma vez ele deixou de fazer uma visita ao seu Pir (Mestre no Caminho) cuja Luz emanava de seu coração como um espelho que refletia a Luz Divina.  Abu Nur era um dervixe dotado da capacidade de saber tudo através de seus sonhos, então quando se decidiu e partiu para encontrar o seu Pir, ele parou de baixo de uma árvore e resolveu dormir ali.

Durante seu sono, viu um funeral no qual haviam muitas pessoas, ele perguntou quem é o falecido? Então responderam que seu Pir havia então morrido deixando essa vida.

Quando ele acordou, estava inconformado e arrependido por ter demorado tanto tempo para ir visitar a seu Pir. Por fim, ele resolveu prestar homenagem à sua memória e recitou o capitulo da Abertura (Surata Al-Fatiha) do Alcorão.

As pessoas que passavam viram o dervixe em prantos soluçando muito, então um senhor que estava voltando de Mumbai se aproximou e perguntou qual era o motivo de tantas lamentações?  Abu Nur então disse, mas o homem respondeu que seu Pir estava vivo e que o havia encontrado. O Dervixe ficou surpreso e ficou então se perguntando o porquê seu sonho dessa vez provou ser falso.
Ele no entanto foi até Mumbai e ao encontrar seu Pir, beijou seus pés. O Pir então deu suas bênçãos e disse que seu sonho foi verdadeiro, porque ele, ou seja, seu Pir, sempre se mantinha absorvido na Recordação de Deus durante a noite. mas naquela noite ele tinha adormecido e foi anunciado em todo mundo que o seu Pir havia falecido.

O NAUFRAGO


Qassim foi o único sobrevivente de um naufrágio chegou a uma ilha desabitada. Ele pediu a Deus fervorosamente para ser resgatado e cada dia poderia ver o horizonte para a ajuda que nunca veio. Cansado escolheu para construir uma cabana de madeira para proteção contra os elementos e manter os seus poucos pertences. Então, um dia, depois de ócio em torno da ilha em busca de comida de volta para a cabine de encontrá-lo em chamas com uma grande coluna de fumaça subindo para o céu. O pior tinha acontecido; Eu tinha perdido tudo e estava em um estado de desespero e raiva.
O único sobrevivente de um naufrágio chegou a uma ilha desabitada. Ele pedia a Deus fervorosamente para que fosse resgatado e sempre olhava o horizonte para ver se chegava ajuda. Cansado escolheu construir uma cabana de madeira para se proteger contra os elementos da natureza e manter os seus poucos pertentes. Então, um certo dia, depois do ócio em torno da ilha em busca de comida, voltou para a cabana e a encontrou em chamas, uma grande cortina de fumaça subindo aos céus. O pior tinha acontecido; Ele havia perdido tudo e estava em um estado de desespero e ódio.

Ó, Deus!, Como você pode fazer isso? lamentou.

Mas ao amanhecer do dia seguinte, ele acordou com o som de um navio que se aproximava da ilha. Eles tinham vindo para salvá-lo.

Como sabia que eu estava aqui? Perguntou o homem cansado de seus salvadores.

Nós vimos o seu sinal de fumaça, responderam eles.

É muito fácil ficar desanimado quando as coisas dão errado. Lembre-se, quando sua cabana pegar fogo, pode ser sinal de que a ajuda está a caminho.

ESTUDO DO COSMO SUFI


Vamos apresentar duas doutrinas, tanto baseada na revelação do Alcorão enriquecida e esclarecida (ou corrompida- dependendo da amostra) pela cosmologia emanacionista neoplatônica.

A. De acordo com a primeira doutrina (ref), Deus tem três dimensões / modo de ser antes da criação, seguido por três mundos /  lugares do cosmo criado.

1. A Essência insondável de Deus; Abismo do Imanifesto Absoluto. Os termos técnicos sufis são: Ghayb ul-Ghaib (Mistério dos Mistérios), Amma (Trevas), Dhat / Zat (Essência). O estágio espiritual correspondente é chamado Ahadiyyah- Unidade. Isso é igual o Uno de Plotino - Para Hen, ou para o  Shaivita Paramashiva tântrica ou Mahabindu.

2. O manifesto Absoluto / Deus. Os termos sufis são Ar-Ruh al-Qudsi (o Espírito Supremo), Aql-ul-Awwal (Primeiro Intelecto) ou Aql-il-Kulli (Intelecto Universal). O estágio espiritual correspondente é chamado Wahdah. O equivalente neoplatônico da doutrina de Plotino seria Nous (Mente Divina), enquanto que certas escolas de Tantrismo falam de Shiva, ou Shiva/ União Shakti. Há tariqas e estudiosos Sufis que negam estados divinos do Primeiro intelecto e relegá-os ao reino da criação.

3. A energia criativa de Deus que se manifesta através de nomes e atributos divinos (ayan at'-Thabita). A "energia" / aspecto criativo resulta da identificação com a noção do Alcorão do Nafas-i-Rahmani (O Sopro da Misericórdia). Além disso, ela é denominada Nafs-i-Kulliya (Alma Universal). O estágio espiritual é Wahdaniyyat. A correspondência exata é com a psique de Plotino (Alma do Mundo), textos Shaivaya referem-se a Shakti como a energia criativa de Shiva ativada.

Tendo em mente todas as semelhanças com o neoplatonismo, não se deve ignorar a diferença: no sistema de Plotino, emanações são hipóstases do Um, fluxo, por assim dizer, "exteriores" o que significa a degradação do Absoluto. Por outro lado, os processos acima mencionados representam um desenvolvimento desejável do Absoluto na cosmologia  Sufi.

B. A segunda doutrina (ref) opera com dois conceitos.

1. O Imanifesto Absoluto (Alam-i-Hahut / o "mundo" do "Ele", Hu (Ele) sendo o termo árabe pertencente a Essência de Deus antes da manifestação. O "mundo" é apenas uma referência simbólica. Isto, a dimensão não-manifesta é frequentemente referida apenas como Hahut. Naturalmente, todos os outros nomes árabes dados sob o ponto 1 da primeira doutrina são válidos. O estágio espiritual é Ahadiyyat.

2. O Absoluto manifesto (Alam-i-Lahut / o "mundo" de Deus, a raiz "Lah" única e igual como em Al-Lah (Deus).  Além disso, geralmente conhecida como Lahut. O estágio espiritual pertencente a Lahut é por vezes conhecido como Wahdah, às vezes como Wahadiyyat. Não há consensus communis neste assunto.

Ambas as doutrinas acima elucidadas compartilham a mesma terminologia dos estágios da manifestação (tanazzulat) do cosmo criado. Seguindo o esquema de emanacionista, temos de cima para baixo (claro, não literalmente, o que são dimensões de manifestação convenientemente estratificada):

4. Alam-i-Jabarut / mundo do poder; Também Alam-il-Arwah (o mundo dos espíritos; Ruh significa espírito, Arwah sendo a forma plural). Que corresponde aproximadamente ao mundo dos arquétipos platônicos, Shaivita Shivaloka (o mundo de Shiva) ou do mundo causal do ocultismo ocidental.

5. Alam-ul-Malakut / o mundo dos anjos. Este termo um tanto incongruente é frequentemente substituído por Alam-ul-Mithal / o mundo das similitudes. O famoso  mundus Imaginalis de Henry Corbin/ mundo da imaginação, tântrico Antarloka (o mundo intermediário) ou  mundos sutis / astro-mental dos ocultistas ocidentais.

6. Alam-i-Nasut / o mundo da humanidade, melhor designado como Alam-al-Ajsam / o mundo dos corpos. tradição tântrica fala de Bhuloka / o mundo da terra. No ocultismo ocidental, o nome é bruto ou mundo físico.


Arwan Harwah


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A HISTÓRIA DE MUSHKIL GUSHA

Esta é a verdadeira história de Mushkil Güsha que salvou a vida de um inocente prisioneiro. Muitos anos atrás, houve um velho chamado Abdallah que vivia em extrema pobreza. Com as costas quebradas e dor em suas velhas mãos, ele ia todos os dias para o deserto plantar alguns arbustos, a fim de ganhar algum dinheiro para sua família. Esse tipo de vida era muito dura e amarga para ele e sua esposa. O Abdallah quanto mais velho ficava mais difícil sua vida.

A esposa de Abdallah então  fazia uma intenção que toda sexta-feira de manhã, antes do nascer do sol ela iria varrer o local em frente de sua casa e salpicar um pouco de água sobre ele. Desta forma, ela esperava ver o profeta Hizir e ser abençoada por ele.
Três semanas mais tarde, quando salpicava a água, ela viu um homem velho com cabelos longos e brancos que veio até ela, dizendo: "Diga Abdallah para lembrar de Mushkil Gusha em tempos difíceis e continuar a fazer assim até o seu desejo ser realizado."

 Assim que ele disse isso, ele desapareceu. A esposa de Abdallah chegou em casa e contou tudo o que aconteceu ao seu marido. Abdollah disse a ela: "Este homem era Hizir, o Profeta de Deus. É uma pena que você não pediu nada!"

Abdallah disse para ela ficar com alguns dos espinhos que ela tinha tirado dos arbustos e armazená-los em um local específico. Ele fez isso para ter uma quantidade deste último para os dias frios de inverno. Na sexta-feira, mais uma vez, ele foi para o deserto. Ele teve pouco tempo para cortar novos espinhos, então ele foi ao local onde ele havia armazenado estes espinhos e descobriu que tudo se foi. Alguém tinha queimado todos os espinhos. Sentia-se tão desesperado e ele estava tão confuso que caiu de joelhos em lágrimas. Ele chorou ao pensar na vida miserável e amarga que ele tinha. Pouco tempo depois alguém montado em um cavalo apareceu. O homem tinha um rosto radiante, ele abraçou Abdallah e o consolou. Ele deu-lhe algumas pedras brilhantes e disse-lhe:

"vendê-as e use o dinheiro para a manutenção de sua família. Você deve se lembrar de mim a cada quinta-feira à noite ."

Então, de repente, ele desapareceu.

Abdallah agradeceu a Deus, colocou as pedras em sua cesta e foi para a cidade. Chegando em casa ele colocou as pedras no peitoril da janela e falou sobre tudo o que aconteceu com sua esposa e filhos. Quando a noite chegou as pedras estavam radiantes com a luz. Abdallah encontrou, assim, as pedras eram reais Jawhar-al shabkhirq, pedras preciosas que brilham durante a noite. Ele estava tão feliz naquela mesma noite que ele não conseguia dormir.
Quando se levantou de manhã, ele escondeu as pedras em um local secreto e levou uma delas ao bazar para vendê-la. Um joalheiro comprou a pedra preciosa a um preço muito elevado. Por causa disso agora  é rico, ele não só era capaz de comprar todos os tipos de alimentos para sua família, mas ele também era capaz de comprar uma bela casa, um palácio real para eles. Não havia necessidade agora de ir ao deserto e coletar madeira para combustível.

Poucos meses depois, Abdallah decidiu ir a Meca. Ele pediu a sua esposa e três filhas para não esquecer a história de Mushkil Gusha e contá-la toda quinta-feira à noite.

Acontece que quando Abdallah havia deixado, a filha do rei passou por seu palácio. Ela foi surpreendido pela sua beleza e perguntou a si mesma como um palácio tão maravilhoso poderia estar ali. A princesa, em seguida, decidiu reunir-se  com as filhas de Abdullah e se familiarizar com elas.

As filhas de Abdollah tornaram-se amigas da princesa, mas por causa dessa amizade se esqueceram de contar a história de Moshkil Gusha e os conselhos de seu pai.

Um dia elas foram juntas com a princesa para um jardim com uma piscina. Quando elas estavam nadando na água, um corvo veio e levou o colar de ouro da princesa e voou com ele para seu ninho em uma árvore.

As filhas de Abdallah foram as primeiras a sair da piscina e para se vestir. Quando a princesa ao colocar suas roupas ela não conseguia encontrar seu colar. A suspeitava que a filha de Abdallah havia roubado e disse isso. Ela ainda acrescentou a ela que, de acordo com ela Abdallah tinha se tornado um homem rico por roubo.
O rei foi informado sobre o colar em falta. Ela deu a ordem de que a esposa e as filhas de Abdallah deveriam ser colocadas na prisão e que seus bens deveriam ser confiscados. Os soldados do rei também foram atrás de Abdallah e o prenderam.

Uma noite Abdallah sonhou com um homem velho com um rosto radiante e uma veste verde. Este era Hizir. Hizir perguntou por que ele tinha esquecido Mushkil Gusha. É por isso que Abdullah pediu aos guardas para comprar-lhe algumas ervilhas e algumas passas. Ele pediu estas coisas para usá-las na primeira quinta-feira depois de seu sonho.

Ele recolheu os prisioneiros em torno de si e disse-lhes a história de Mushkil Gusha e ele chorou muito. Exatamente na mesma noite o rei teve um sonho no qual viu Hazrat Ali, que lhe ordenara para liberar Abdullah e sua família inocente. Ele disse ao rei que o colar da princesa poderia ser encontrado no ninho de um corvo em uma árvore.

O rei acordou com um choque. Ele ordenou dar uma olhada em todos os ninhos de corvos nas redondezas. Deste modo foi encontrado o colar. O rei ordenou soltar Abdallah e sua família.
Daquele dia em diante - e durou até o fim de sua vida - Abdallah era um confidente do rei e era respeitado por todos. Além disso ele nunca se esqueceu de contar a história de Mushkil Gusha em cada quinta-feira à noite.

UM CONTO SUFI DESCONHECIDO

Era uma vez um sufi que foi abordado por um jovem, que lhe disse:

"Por que o sábio não dão bons conselhos para todos, para que todos nós possamos agir de acordo com isso, e prosperar? Se há tantos iluminados que podem curar o doente, por que não cura a todos para que possamos banir a doença da terra?"

O Sufi disse:

'Vem comigo em uma viagem, e eu vou lhe mostrar como as coisas realmente são, pois elas são o contrário do que pensa. "

Assim, os dois partiram em suas viagens.

Eles chegaram a uma aldeia onde um homem estava tentando ordenhar uma miserável cabra, mas dificilmente poderia obter qualquer leite dela.

O Sufi disse-lhe:

"O que você gostaria, acima de tudo?"

O homem respondeu:

"Eu gostaria de um rebanho de boas cabras, de modo que 1 poderia levantar a minha cabeça e alimentar a minha família e ter sustento."

O Sufi disse:

''Você não preferiria ser digno de tudo isto primeiro?"

"Não", disse o homem pobre, "porque a pobreza produz miséria e abundância é uma bênção que produz benevolência."

O Sufi acenou com a mão, e de repente o pobre camponês descobriu que ele era o proprietário de muitos rebanhos de belas cabras.

Os dois viajantes seguiram o seu caminho.

A próxima pessoa que encontraram foi uma mulher, que estava sentada desconsoladamente ao lado de um poço. O Sufi perguntou-lhe o que estava errado, e ela disse:

"Eu sou feia e ninguém vai casar comigo, isto significa que estou condenada a passar o resto da minha vida na miséria, uma vez que por aqui é considerado indesejável não ser casada."

O Sufi disse:

"Você prefere ser bonita ou realmente útil neste mundo e capaz de servir as outras pessoas?"

"Eu preferiria ser bonita", ela disse, "porque se eu fosse, não seria difícil fazer o bem. Como são, os outros que fazem mal para mim."

O Sufi acenou com a mão, e com o seu conhecimento dos reinos superiores, a mulher foi transformada em uma mulher de beleza arrebatadora.

Os dois seguiram o seu caminho.

O próximo homem que conheci era um estudioso, vestido com roupas suntuosas.

Após a mesma conversa, o Sufi perguntou-lhe:

"Existe alguma coisa que você precisa? Parece que não,  pois tem sido abençoado com tanto. Você tem gado, casas, o respeito de seus alunos ..."

O estudioso disse:

"Nenhum deles é digno de qualquer consideração. O que eu realmente preciso é que eu deveria ser considerado como o maior estudioso do mundo ".

"Mas", disse o Sufi, "você não desejaria sim ser conhecido como o homem mais útil no mundo?"

"Eu não penso assim", disse o estudioso, "pois ninguém pode decidir se alguém realmente é útil: eles só podem acreditar."

O Sufi acenou com a mão, e, num instante, o acadêmico foi transformado no mais famoso e distinto sábio do mundo.

Após mesmos meses de viagem, o Sufi mudou seu manto e aparência e também do discípulo, para que eles parecessem completamente diferente. Agora ele disse:

'Vamos refazer nossos passos e ver como o nosso conselho e ações tiveram efeito."

No devido tempo, eles se depararam com o homem com as cabras, e descobriu que ele havia se tornado um tirano, a quem todos temiam. "As Pessoas", disse o Sufi, "imagine que elas precisam de afluência para serem boas, considerando que pode torná-las pior, pois pode dar-lhes oportunidades que não tinham antes."

Então eles viram a mulher, que agora estava casada, mas passava o tempo todo apreciando si mesma. "Se ela tivesse dito para ser melhor antes de se tornar bonita, ela não teria tomado qualquer aviso prévio", disse o Sufi.

Finalmente eles chegaram à casa do professor, que estava tão cercado por admiradores que tinha dificuldade em conseguir uma audiência.

"Diga-me", disse o Sufi, "você atingiu essa importância por si mesmo, ou foi talvez através do milagre de um desses homens sábios?"

'Homem sábio?' disse o estudioso; 'não existe tal coisa. Milagreiros, de fato! Saia!

Agora, o Sufi acenou com a mão novamente, e todos voltaram a ser o que eram antes.

"O conselho que as pessoas precisam para que possam melhorar e fazer uso da cura e do bom conselho e da boa fortuna", disse a seu aluno, "já está disponível para eles e tem sido repetido por séculos.

''Quando eles começam em grande número a prestar atenção a isso, em seguida, os Sufis são capazes de dar-lhes um sentido mais adicional. Até então, só os poucos que querem aprender e não aqueles que querem ganhar que serão da responsabilidade do sábio. E são essas pessoas que obtêm os dons que os sufis podem dar."

terça-feira, 4 de outubro de 2016

SOBRE AS RAZÕES POR TRÁS DA PUNIÇÃO E RECOMPENSA PARA AS ALMAS

O conhecimento autêntico não é sobre a aquisição da informação, é uma espécie de adesão ao Al-Hudood (os limites). E a chave para o conhecimento é o controle do Poder da Alma Behavioral- A alma que é responsável pelo comportamento do homem e que Platão distingue da Alma Obediente ou Alma Receptiva, chamando-a "Psique".

Em seguida, chegará ao estado em que a sua modéstia é colocada no caminho certo e seu compromisso com o Al-Hudood é fortalecido. A tal ponto que será capaz de detectar os limites de qualquer pensamento negativo e retirar-se intuitivamente antes de ser colocado no erro.

Consequentemente, isso vai permitir-lhe identificar a sabedoria por trás dos estados negativos como estará avançando no espaço e tempo até o momento em que o Poder aos Necessitados em ti é derrotado (o poder da corrente negativa que é responsável pela influência da Alma do equilíbrio).

A boa alma está garantido como resultado do aviso de Al-Hudood e sua fé e crença no por que o que está acontecendo está acontecendo. Ela prometeu lealdade ao julgamento de Deus (seja bom ou ruim) e este é o poder mágico que transforma o medo em conforto e pânico em calma. Esta calma coloca a alma na posição certa para beneficiar o saber dos limites de sua provação.

Quanto a Alma Trevosa que alegou liberdade sobre a definição dos seus próprios limites e portanto, sofria da falta de conhecimento do Al-Hudood - não saber onde parar; e é por isso que você vê os filhos das trevas buscando dinheiro e poder para armar-se contra o ilimitado e praticar o controle sobre os outros para controlar seu medo de seus próprios eus. Eles têm medo da menor criatura que grita em sua face. O medo sempre preenche seu coração - o medo como resultado deles serem convencidos de que são ambos, o viajante e a viagem em si.

Seu pai desejou desafiar a natureza de Adão (a mente absoluta), mas ele não podia e através de seu auto-controle tropeçou, assim ele recorreu a esperteza e a malandragem. Ele foi aconselhado, mas ele não deu ouvidos e ele forçou a grande parte da humanidade a declarar guerra contra os filhos de Adão.

Nesta era, nem ele ou seus seguidores tem o efeito passado (ou o que é conhecido como os poderes das trevas praticados pelos anjos caídos de Atlantis contra os Filhos da Luz).

Quanto ao seu poder hoje, é limitado ao engano: os truques da política e da mídia, ele está exposto hoje para as ferramentas violentas que ele utiliza, após os últimos tempos da glória, quando ele se armou com o poder da magia.

E sua utilização do ouro como uma moeda para enredar o destino espiritual das pessoas neste ciclo final é uma prova da sua fraqueza.

E assim, é preciso virar os olhos para longe do poder das personalidades que reivindicam o controle sobre o mundo através da política e meios de comunicação e as expressões de tal poder enganador nos rostos das figuras proeminentes em vez de dirigir a sua visão em direção ao seu eu interior, a fim de ver através dos olhos da intuição o verdadeiro poder por trás da realidade.

O HOMEM QUE FOI TATUADO (COMENTADO)

Era costume entre os homens de Qazwin mandar tatuar no corpo
diferentes emblemas. Um homem covarde procurou o artista para tatuar-lhe um desses emblemas em suas costas, e pediu que fosse a figura de um leão. Mas, quando sentiu as picadas da agulha, uivou de dor e disse ao artista: 

"Que parte do leão você está pintando?"

O artista respondeu:

"Estou fazendo a cauda"'. 

O paciente gritou:

"Esqueça a cauda; passe para outra parte". 

O artista começou então por outra parte, mas o paciente gritou de novo e disse-lhe que tentasse em outro lugar. Sempre que o artista aplicava suas agulhas, o paciente levantava objeções semelhantes, até que, por fim, o artista jogou no chão todas suas agulhas e pigmentos e recusou-se a continuar.

[Masnavi, Mevlana Jalal Ud Rumi, História X, página 56]



Baba Mustansir Ganj Shakar Abdul-Alyy Al Akbar diz:

Ya Ali Madad!

Em muitos ciclos (Dawr) vemos a humanidade, a grande massa da civilização humana repudiar a dor como esse homem a ser tatuado, a dor por menor que seja se torna insuportável, o mesmo acontece com o processo de desenvolvimento espiritual, as provações da vida no dia a dia seja no emprego ou nos relacionamentos nos quais uma leve brisa se torna uma tempestade devastadora que acaba com tudo devido a falta de convicção, paciência, auto-conhecimento e insegurança oriundas de diversas causas.

Como esse homem covarde que não suportava a ponta da agulha, muitos nos dias de hoje não suportam seus problemas por mais insignificantes que possam parecer e já desistem covardemente antes mesmo de começar.

A coragem perante as dificuldades da vida é o que separa o fraco do forte.






segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O FILHO DO MENDIGO

Quando o mestre Salim, de Isfahan (no Irã), visitou a cidade de Haydarabad na Índia, muitos disputaram entre si pelo privilégio de que os aceitassem como seus discípulos.

Alguns eram ricos, outros possuíam perfeito conhecimento das tradições, mas todos desejavam ocupar um lugar aos pés de Salim.
Mas quando a visita havia terminado, Salim não deixou ninguém como seu representante para que guiasse a essas pessoas e só levou consigo o filho de um mendigo.

Uns dez anos depois, seu representante Muzaffar chegou a Haydarabad e retomou ali o ensinamento. Quando os adeptos compreenderam seu grande valor, lhes revelou que ele era o filho do mendigo, aquele a quem Salim havia escolhido.

Esse fato foi muito comentado, como algo assombroso e foi tomado como uma lição.

Mas com tudo isso não conseguiam ver mais que um aspecto.
Um dia em que estavam todos reunidos  abertamente, alguém disse a Muzaffar.

"Que poético e justo que o mais humilde se tornou o chefe de todos!  Acaso foi doloroso viver no ambiente do mestre como filho de um mendigo e lidar com as provas como aspirante para se transformar em um Sheikh Sufi?"

Muzaffar observou:

"Para mim foi algo penoso. Mas para um de meus companheiros, que conheci ali foi realmente doloroso, pois estava experimentando uma grande mudança."

Perguntaram a ele então:

"Quais eram suas origens? Deve ter sido uma espécie de herege!"

Muzaffar respondeu:

"Ele era o filho de um rei."

sábado, 1 de outubro de 2016

O SIGNIFICADO DO DHIKR (A RECORDAÇÃO DIVINA)

Certa vez um Sheikh chegou a Istambul. Era um dervixe errante. Dirigiu-se a autoridade governamental em assuntos religiosos e perguntou por um edifício para ser utilizado como uma Dergah.

"Quantos dervixes tens?" Perguntaram os oficiais.

"Tenho este único dervixe", respondeu, "e eu".

Isto soou estranho, mas havia um velho edifício e concordaram em dar para ele. Ele aceitou, e com o seu dervixe, ocuparam o edifício. Logo após uma enorme Luz que saia de dentro dele, o som do Dhikr (Recordação Divina) podia ser escutado todas as noites e muitas pessoas participavam. A luz era grande e brilhante.

As autoridades governamentais a cargo das Tekkes, os outros dervixes das outras dergans queriam saber quem era este homem que estava realizando um Dhikr que atraia tanta gente e também o que era essa grande luz que saia do velho edifício o qual havia sido reconstruído por esse Sheikh; então eles foram lá ver.

Os policiais disseram a ele: "Nós somos responsáveis para verificar se tudo está em ordem e nós gostaríamos de falar com você para nos certificar de que você está fazendo as coisas corretamente."

"Muito bem", respondeu o Sheikh.

"Qual é o significado de La ilaha Ilah Allah?" Eles perguntaram.

"Você quer o significado como entendem ou de acordo com o meu entendimento?"

"Nós sabemos como entendemos. Conte-nos como o senhor entende", eles responderam.

"Por isso eu preciso do meu dervixe, que trouxe a primeira vez que vim a este edifício."

Os oficiais balançaram a cabeça e sentaram-se, enquanto o Sheikh e seu dervixe começaram a realizar o dhikr. Quando ele disse "La ilaha" seu dervixe desapareceu. Quando ele disse "ilah llah" reapareceu. Quando ele disse "la ilaha" mais uma vez, ambos desapareceram. Quando ele disse "ilah llah" ambos apareceram novamente. A última vez que ele disse "la ilaha", a sala inteira desapareceu. E quando ele repetiu "illa llah", cada um voltou a aparecer.

O Sheikh se virou, olhou para os oficiais e disse:

"Isto é como entendo o significado de La ilaha ila llah e do dhikr." 

La ilaha, "não há nenhum deus" e  se não há Deus, então não existe nada. Illah llah, "além de Allah" e se Deus existe, Ele nos criou e, depois, aparecemos."

O DESAPEGO DE SI MESMO

Todos temos ouvido falar de Hazret Sibli, que foi discípulo do Grande Junaid de Bagdá. Este homem santo, além de ser muito devoto as suas práticas, tinha a fama de falar de uma maneira suave e direta.

Certa vez perguntaram a Sibli como havia entrado neste caminho, o que o havia influenciado. Ele respondeu de uma maneira muito direta:

"Meu primeiro mestre foi um cachorro."

Surpresos ao escutarem essa resposta, o povo começou a sorrir pensando que o que ele estava dizendo era uma piada.

"Não, não é uma piada. Uma vez vi um cachorro nas margens do lago. Este cachorro estava com muita, mais muita sede. Mas cada vez que ele se aproximava da água via outro cachorro olhando para ele, então ele recuava com cautela. E assim ia e voltava, e novamente se encontrava com esse cachorro que estava olhando para ele. Finalmente enlouquecido de sede, decidiu simplesmente atacar o seu inimigo e se jogou na água. Ao fazê-lo, viu seu inimigo desaparecer imediatamente, ele tinha ido embora."

Ao desvanecer-se diante de seus olhos, Hz.Shibli percebeu que a barreira que existia entre o cão e seu desejo (a água potável) era ele mesmo. E Shibli observando toda a situação, ele percebeu que o único obstáculo entre ele e seu desejo (que não era outro senão Deus), era ele próprio também.

A IRA E A COBIÇA

Certa vez, o sultão ia cavalgando pelas ruas de Istambul, rodeado de cortesões e soldados. Todos os habitantes da cidade haviam saído das suas casas para vê-lo e ao passar todo mundo fazia uma reverência. Todos, exceto um dervixe esfarrapado.

O Sultão parou a procissão e fez com que trouxessem até ele o dervixe. Exigiu saber por que não havia se inclinado como os demais.

O dervixe contestou: 

"Toda essa gente se inclina ante ti porque todos eles anelam o que tu tens - dinheiro, poder, posição, social - Graças a Deus essas coisas já não significam nada para mim. Assim sendo, por que haveria de me inclinar diante de ti se tenho dois escravos que são teus senhores?"

A multidão conteve a respiração e o sultão avermelhado de raiva:

"O que quer dizer?" gritou.

"Meus dois escravos são a ira e a cobiça, teus mestres." disse o dervixe com calma, olhando o sultão nos olhos.

Se dando conta do que havia escutado era certo, o sultão se inclinou ante o sufi.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

AQUELES QUE SOBREVIVERAM A ANTIGA BATALHA



Há muito tempo atrás na era mitológica em que a terra como nós conhecemos hoje era desconhecida, os irmãos do sol caminharam sobre a terra refletindo a sabedoria antiga das eras, não através da filosofia ou da religião, mas através da linguagem de luz.

Nunca houve uma terra que não haviam sido agraciada pela presença deles ou uma época desprovida de suas ações significativas. Hoje, algo é despertado nos rincões de um Filho da Luz quando um nome como "Hermes Trismegistus" vem através de seus ouvidos. Parece que a memória sagrada daqueles homens, apesar da falta de informações vivas sobre eles e suas doutrinas é codificada dentro do coração para que nunca pudesse ser perdida.

Tão profundo era o poder do pensamento adâmico, tão nobre eram as expressões resultantes que uma vez manifestadas o resultado foram experiências que permaneceram impressas no interior dos corações dos Filhos da Luz por gerações - nunca se esqueceram, não importa o número de reencarnações.

Espiritualmente unidos pela identidade de Adão, os filhos da luz, apesar dos ensaios de história e geografia, nunca esqueceram a antiga casa, onde inicialmente pertenciam.

Como os raios do sol, embora dispersos através da escuridão da história que nunca esqueceram a língua do amanhecer codificado em sua memória edênica. Desde de tempos eternos haviam ensaiado para o aguardado amanhecer dessa memória.

Eles falavam a linguagem da Luz, em Atlântida através de formas de comunicação que nenhuma tecnologia tem até agora recuperado.

O amanhecer de sua união na terra como no céu, no corpo como no espírito, tem sido a história de cada milagre, todo mito, cada lenda, cada mensagem, cada profecia, cada revelação, cada tentativa de invocar o oculto.

O HOMEM LIVRE

Há séculos atrás, haviam dois homens de Cabul que enfrentavam tempos muito difíceis. Eles perderam tudo o que possuíam e sofreram grandes perdas e enfrentavam agora a pobreza. Tão grande eram os seus infortúnios que, por mais que tentassem, eles não poderiam melhorar a sua posição. Sempre alguma coisa acontecia com eles para levá-los a um revés. Grandes foram a fome física e angústia mental que eles sofreriam. Dor e tristeza estava com eles como uma nuvem pesada. Um dia, um homem disse para o outro: 

"Nós sofremos muito e trabalhamos duro, mas parece não haver esperança de melhorar a nossa sorte. Vamos deixar este país e procurar a nossa sorte em outro lugar. Certamente que seria uma medida acertada. Um bondoso sultão chamado Mahmud  agora reina e ele é bem conhecido por sua generosidade, vamos a Ghazna e tentar vê-lo. Então, pelo menos teremos alguma esperança de que nossas miseráveis circunstâncias possam ser mudadas."

Então eles partiram para Ghazna e na estrada conheceram a um homem que se juntou a sua companhia e caminhou com eles. Ele era um homem muito piedoso e ele parecia feliz e contente; na verdade, era como se ele caminhasse sobre a terra como um dos bem-aventurados.

"Diga-me, meus irmãos", ele perguntou aos dois homens, "Aonde vocês estão indo? E qual é o motivo da sua viagem?"

"Temos sofrido tanto, nossa infelicidade está tão prolongada que passamos por muitas dificuldades", os dois homens responderam:

"Em Cabul temos trabalhado duro e por um longo período e ainda não conseguimos melhorar a nossa situação, e tendo ouvido falar da grande generosidade do sultão Mahmud e sua preocupação com os pobres e necessitados, decidimos ir até ele na esperança de que ele olhará com bondade para nós e nos ajude a voltar para a estrada da prosperidade."

Os dois homens de Cabul, em seguida, perguntaram ao estranho, para onde ele ia e qual era o objetivo de sua viagem.

"Eu também não tenho nada que eu possa chamar de meu no meu país e meus negócios também estão indo mal", ele respondeu:

 "Eu vou em busca de alguns meios legais de apoio, mas eu não espero nada do sultão Mahmud ou alguém como ele. Sultão Mahmud e gente do tipo são assediados por cem mil homens todos esperando que ele em sua infinita graça e generosidade vá doar algum presente ou favor a eles. Vou procurar outro lugar para uma solução para as minhas dificuldades."

Os três homens continuaram sua jornada em companhia e quando finalmente chegaram a Ghazna eles se alojaram juntos em um edifício em ruínas.

Uma noite, os três homens estavam sentados juntos na ruína conversando sobre isso e aquilo, e aconteceu que, neste momento sultão Mahmud tinha deixado seu palácio com dois amigos próximos para dar um passeio ao luar. Quando se aproximaram da ruína o sultão foi atraído pelo som de vozes; ele seguiu em frente, descobriu os três viajantes e perguntou-lhes quem eles eram.

Os dois homens de Cabul responderam: 

"Temos sido esmagados na pressão da pobreza e desgraça e estamos agora angustiados e impotentes. Deixamos o nosso próprio país a procura de algum aperfeiçoamento da nossa sorte em outro lugar. O destino levou-nos para cá e esperamos que de alguma forma, em algum lugar, a nuvem de miséria que nos envolve vá embora."

"E quais são seus desejos?", Perguntou o sultão.

"Mesmo que nós disséssemos quais são os nossos desejos sabemos que nunca seriam concedidos", disse os dois homens de Cabul. "Se dissermos seremos atendidos?"

E o sultão disse: "É dever dos homens ajudar uns aos outros. Portanto, diga-me seus desejos que eu, pelo menos, posso saber como você poderia ser ajudado."

O primeiro homem respondeu:

 "Eu era uma vez próspero e tinha uma grande riqueza. Este mundo, com as suas chances e alterações, deixou de ser sorte para mim, e a vergonha da minha pobreza e desgraça da minha família me levaram a deixar o meu país. Agora, se eu tivesse dez mil dinares eu poderia considerar a soma do capital novo e poderia, então, levantar a cabeça novamente e voltar para o meu país."

O segundo homem respondeu: 

"Eu tinha uma esposa obediente e amorosa. A beleza de suas feições superava a rosa na beleza; o brilho de seu rosto fez a lua parecer diminuir em seu esplendor. Eu a amava muito e não podia suportar se separar dela. Mas ela morreu e eu estava tão consumido pela dor que eu me senti perdido e indefeso. Se sua majestade o sultão me apresentasse a uma mulher de seu harém, de modo que minha vida possa uma vez mais ser iluminada pelo sol da sua presença, eu ficaria feliz em voltar ao meu país."

O terceiro homem permanecendo em silêncio, o sultão se virou para ele e disse: "E você não tem nenhum desejo" E o terceiro homem respondeu:

"Eu coloco toda minha confiança em Deus. Eu não preciso nem de uma esposa e nem ouro. Eu volto minha face para a Misericórdia de Deus por quem todos os favores são concedidos. Todos os nossos desejos são conhecidos por Deus e Deus sabe o que merecemos. Eu me coloco em Suas mãos; Ele concederá tudo o que é certo para mim. Tudo que eu peço é isto: se você aprecia o favor de Deus e se Ele conceder-lhe os seus desejos, por favor, orem a Ele por amor de mim que eu nunca possa seguir uma linha de pensamento ou ação que é contra a Sua vontade."

O sultão não disse mais nada e, sem deixá-los que eles o reconhecessem, levantou-se e partiu. Na manhã seguinte, ele ordenou que os três estranhos que ele havia conhecido na ruína fossem levados à sua presença.

Quando os homens viram o sultão e perceberam que ele era o homem com quem tinha falado na noite anterior, eles pensaram a princípio que ele ia ficar zangado com eles. Mas o sultão pediu a cada um dar um passo adiante, por sua vez e deixou a livre escolha, e os dois homens de Cabul repetiram o que haviam dito antes. 

Quando foi a vez do terceiro homem  avançar e falar, ele disse:

"Implorar deixa um gosto amargo na boca. Doce é a generosidade do nobre de espírito. Ó mais gentil dos governantes, possa o tesouro de seus desejos permanecerem cheios de ouro, prata e jóias de prosperidade desde que o armazém de Deus seja cheio de bênçãos. Embora muitos se alegram em sua generosidade e você mesmo conheça o doce sabor das boas ações, aqueles que têm encontrado a sua paz com Deus são tão contentes que eles não têm nenhum desejo de tomar qualquer coisa de outro homem. O contentamento não é adoçado pela generosidade dos outros e as delícias da independência são muito superiores a qualquer prazer que possa haver no recebimento de presentes dos outros. Eu submeto minhas esperanças e anseios somente a Deus; Ele vai conceder o que é certo e bom para mim. Eu não tenho nenhuma necessidade de pedir nada a um outro homem."

Agora, o sultão, que não estava acostumado a atender essa independência, tentou persuadir o homem a pedir algum presente ou favor, mas o homem não podia ser abalado a partir de seus princípios declarados. O sultão, em seguida, deu ordens para que o homem que queria uma esposa fosse dado uma das próprias donzelas do sultão, enquanto o homem que queria dinheiro fosse presenteado com duas bolsas de ouro. Ele então ordenou que os três homens deveriam retornar aos seus país. Os três homens foram postos adequadamente de volta a estrada para Cabul.

Quando os companheiros haviam caminhado cerca de sete milhas, o homem que tinha sido dado o ouro começou a se sentir cansado do peso dele, então ele entregou a seu amigo de mãos vazias pedindo-lhe para levá-lo até que ele se recuperasse descansando um pouco.

Depois que os três homens haviam deixado a presença do sultão, o governante voltou-se para os seus cortesões e disse:

 "Aquele homem independente tem me deixado com muita pena. Embora eu tentei convencê-lo a aceitar um presente de algum tipo, ele não levaria nada e quando ele me deixou eu me senti como se eu estivesse na posição de um homem pobre."

Agora, um dos cortesões era um homem muito ganancioso, e os homens gananciosos são os inimigos naturais da satisfação. "Os sultões e reis deste mundo" - disse o cortesão ganancioso - "são tesoureiros de Deus. Homens que não irão voltar para seus governantes para obter ajuda ou desprezam seus favores são culpados do pecado do orgulho e agem contrariamente à vontade de Deus. Tais homens merecem morrer e devem ser punidos."

Esta declaração animou bastante o sultão e ele imediatamente ordenou a um dos seus oficiais para acelerar ao longo da estrada que os três homens tinham tomado e não molestando o homem com o ouro e o homem com a garota, mas se aproveitarem do homem que estava de mãos vazias, matá-lo e trazer de volta a cabeça para o sultão.

No entanto aconteceu que quando o assassino alcançou os homens na árvore, o homem independente transportava o ouro em suas costas e o proprietário do ouro estava de mãos vazias. O camareiro agiu rapidamente e sem desperdiçar palavras. Ele cortou a cabeça do dono do ouro e a levou ao sultão.

Quando o sultão viu a cabeça, exclamou: "companheiro irrefletido, você fez um erro!" E imediatamente o expulsou e chamou outro assassino ordenando-lhe cortar a cabeça do homem que não carregava nada. Mas aconteceu que o dono da menina tinha confiado a ela ao homem independente e tinha ficado um pouco atrás. Quando o mensageiro veio até ele percebeu o proprietário da menina seguinte de mãos vazias no rastro do homem independente e imediatamente cortou-lhe a cabeça. Ele correu de volta ao palácio e apresentou a cabeça a seu mestre, mas mais uma vez o sultão gritou de espanto: "Este homem também foi morto por engano."

O sultão foi colocado em grande agitação, mas quando ele tinha tido tempo para pensar, ele ficou calmo e viu que a graça de Deus havia de fato abrigado o homem independente do dano. Ele então chamou outro atendente e ordenou-lhe para seguir o mesmo caminho e trazer à sua presença o homem que estava andando tanto com o ouro e a menina.

Quando isso foi feito e o homem independente foi mais uma vez pego e levado diante do sultão, o governante disse: "E o que aconteceu com seus companheiros?"
"Que o sultão prospere e viva para sempre!", Respondeu o homem independente:

 "Ele que presenteou os meus companheiros com o ouro e a donzela tem em troca tomado suas vidas. Qualquer homem que coloca posses antes de seu Criador vira o rosto longe da felicidade real e não vai arrancar uma única flor do jardim de seus desejos. Quem se afasta de Deus não encontrará a felicidade onde quer que vá ."

Mais uma vez ele não queria aceitar qualquer presente do sultão, mas ele pediu que as famílias dos dois homens assassinados recebessem uma grande soma de dinheiro e, em seguida, ele deixou sultão Mahmud.


A atitude do homem independente impressionou muito o sultão e fez perceber que este homem tinha de fato provado as doçura do Amor e da Sabedoria Divina.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O APAIXONADO E SUA AMANTE

Um jovem, valente e impetuoso como um leão, esteve, durante cinco anos, apaixonado por uma mulher. Num dos olhos da sua beldade havia uma manchazinha, mas o amante, quando admirava a beleza da amada, nunca a via. Como poderia o homem, tão apaixonado, reparar num minúsculo defeito? Com o tempo, todavia, o amor começou a diminuir e ele reconquistou o domínio de si mesmo. Foi então que notou a mancha, e perguntou à mulher como aparecera aquilo. 

E ela: 

“Isso apareceu na ocasião em que teu amor principiou a esfriar. Quando o teu amor por mim se tornou defeituoso, meu olho se tornou defeituoso para ti”. 

Ó cego de coração! Por quanto tempo ainda continuarás a procurar as faltas alheias? 

Forceja por ter consciência das coisas que escondes com cuidado. Quando vires tuas faltas em toda a sua hediondez, não te preocuparás tanto com as dos outros.  


Fonte: Linguagem dos Pássaros

domingo, 25 de setembro de 2016

MASNAVI: O ESCRAVO HINDU QUE AMAVA A FILHA DE SEU AMO

Um certo homem tinha um escravo hindu, que educara junto com seus filhos, sendo um deles uma menina. Quando chegou o momento de conceder a filha em casamento, muitos pretendentes se apresentaram e ofereceram grandes dotes para conquistar sua mão. Finalmente, seu pai selecionou um, que não era de modo algum o mais rico nem o mais nobre de todos, mas que era piedoso e bem educado. As mulheres da família teriam preferido um dos jovens mais ricos, mas o pai insistiu em fazer as coisas a seu modo, e o casamento foi decidido de acordo com seus desejos.
Assim que o escravo hindu soube disso, adoeceu e a mãe da moça descobriu que ele estava apaixonado por sua filha e aspirava a honra de desposá-la.
A senhora ficou muito transtornada com esse infeliz incidente e consultou seu marido, para saber o que seria o melhor a fazer. Ele disse: "Guarde essa história em segredo, pois vou curar o escravo de sua presunção, de modo que, de acordo com o provérbio 'o espeto não será queimado, mas a carne será bem assada'." Ele disse à esposa que animasse o escravo com a esperança de que seu desejo seria realizado e que a moça lhe seria dada em casamento. O pai, então, celebrou um casamento simulado entre o escravo e a moça, mas durante a noite, trocou a moça por um menino vestido de mulher, e o resultado foi que o noivo passou a noite brigando com sua suposta noiva. Na manhã seguinte, ele teve uma entrevista com a moça e sua mãe e disse que não queria mais nada com ela, pois, embora sua aparência fosse muito sedutora à distância, um relacionamento mais íntimo destruíra o encanto.
Assim, também os prazeres do mundo parecem doces até serem experimentados, quando então se descobre que são muito amargos e repulsivos. O Profeta declarou que "a paciência é a chave da felicidade"[1]; em outras palavras, aquele que se controla e se abstém de entregar-se aos prazeres do mundo encontrará a verdadeira felicidade; mas esse preceito não produz uma impressão durável na maioria dos homens. Quando uma experiência amarga os surpreende, tal como a dor de uma queimadura que aflige as crianças, ou como as mariposas que brincam com o fogo, ou a dor da amputação de um ladrão, eles amaldiçoam as tentações ilusórias que lhes causaram essa dor; porém, assim que a dor diminui, correm atrás dos mesmos prazeres com a mesma ânsia de sempre. Isso está divinamente ordenado, pois "Deus pode eliminar a astúcia dos descrentes".[2] Seus corações, por assim dizer, foram inflamados pela chama da experiência amarga, mas Deus apagou as centelhas da boa resolução, fazendo com que esquecessem sua experiência e seus votos de abstinência, de acordo com o texto: "Toda vez que a fogueira de um acampamento de guerra é acesa, Deus a extingue".[3] Isso é ilustrado pelo conto de um homem que ouviu passos em sua casa à noite, e imediatamente acendeu uma vela; mas o ladrão apagou-a sem ser notado, e o homem ficou com a impressão de que a vela se apagara sozinha. Isso leva o poeta a discorrer novamente sobre seu tema favorito da atuação exclusiva de Allah.
Em seguida, para proporcionar a correta moral dessa doutrina, conta-se outro conto a respeito de Mahmud e Ayáz. Os cortesões se queixavam porque Ayáz recebia o estipêndio de trinta cortesões, e Mahmud, por meio de um teste prático, convenceu-os de que os talentos de Ayáz equivaliam aos de trinta homens. Os cortesões replicaram que isso se devia a uma graça de Deus, e não a qualquer mérito da parte de Ayáz; o rei refutou assinalando que a responsabilidade e o mérito, ou demérito, de um homem por suas ações são reconhecidos no Alcorão. Iblis fora condenado por dizer a Deus: "Me fizeste errar"[4] e Adão foi louvado por dizer: "Nós nos enegrecemos".[5] E em outro lugar está dito: "Quem tiver feito um bem do tamanho de um átomo o verá. E quem tiver feito um mal do tamanho de um átomo o verá".[6]



[1] Freytag, Arabum Proverbia, III.270.
[2] Alcorão VIII. 18
[3] Alcorão V.64.
[4] Alcorão VII. 15,22.
[5] Alcorão VII. 15,22.
[6] Alcorão XCIX. 7.