quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A Influência xiita no Marrocos ( por Baba Mustansir Ganjshakar Abdul-Aliyy Al Akbar)

O Marrocos nos dias de hoje é um país predominantemente sunita, porém os resquícios da sua antiga formação xiita ainda podem ser vistos em sua população atual, para quem não sabe o Marrocos teve uma dinastia xiita formada por Idriss I, que inaugurou a dinastia Idriss ( árabe al-Adarisah ou em bérbere Idrisiyen) o mesmo foi um sayyed neto de Imam Hasan Ibn Ali a.s.

Idris Ibn Abdallah (781-791) após a batalha de Fakhkh que ocorreu nas proximidades de Meca, uma batalha entre os Abássidas e os partidários xiitas, Idriss Abdallah sobreviveu e foi para o Magrebe e juntamente com a tribo bérbere Awraba que já era muçulmana unificou o Marrocos onde formou o estado Xiita Zaidi subjugando as tribos cristãs, judaicas e pagãs. 

Moulay Idris I acabou sendo envenenado por um agente Abássida, mais tarde seu único sucessor Idriss II foi proclamado Imam pelos Awraba.

 
Quando Idriss II morreu em 828, o estado Idrisida estendia-se da Argélia ocidental ao Sous no sul do Marrocos se tornando o principal estado do Marrocos, a frente dos principados dos Sijilmasa, Barghawata e Nekor.

Nos dias de hoje vemos ainda a influência da dinastia xiita zaid no pensamento da escola clássica sunita do Marrocos, a Maliki, os Imames ainda seguem regras da escola jurídica zaid como não se rebelar contra um rei que é descendente do Profeta Muhammad, assim como também estabeleceram dentro de sua jurisprudência que só um rei descendente do Profeta Muhammad (paz e bênçãos sobre ele) pode assumir o trono do país.

O mesmo acontece em diversas linhagens espirituais do Marrocos à Argélia, diversos Santos Sufis de ambos os países são descendentes de Moulay Idriss (Idriss Ibn Abdallah), na cadeia de transmissão de muitas ordens sufis veremos nos primórdios a sua ligação estreita com o Imam Ali, seus descendentes e também seus mais próximos seguidores.
Cheikh Ahmad Alawi

Nas práticas sufis vemos também uma forte menção do Imam Ali e Fatima Az-Zahra, a filha do Profeta Muhammad, existe uma forte ênfase nos poemas recitados nas zawiyas sufis, nas histórias sufis e nos encontros espirituais com o Imam, o ramo da Shadhiliyyah denominado "Alawiyyah" é um exemplo disso, ganha o nome "Alawiyyah" por sugestão de Imam Ali que apareceu em um encontro mithal (etérico) ao Cheikh Ahmad Alawi Al-Mostaghanimi  na Argélia, outros santos sufis também relataram serem descendentes do Profeta, usam termos carinhosos como "jaddi" (avô) em seus escritos para se referir ao Profeta e assim demonstram a sua descendência e que fazem parte da casa do Profeta através da descendência de Fátima, sua nobre filha.

Os Barghawatas, seguidores de uma religião étnica e sincrética que misturavam elementos do Islão sunita, xiita e Khariji como também astrologia e mitologia tradicional bérbere acabou vivendo no subconsciente coletivo do povo do Marrocos, a ênfase que muitos Cheikhs Sufis dão no Marrocos mencionando a saliva do Profeta como fonte de baraka (bênção) é algo que os Barghawatas davam muita ênfase nos seus discursos e que de certa forma é bastante presente no xiismo até hoje.

A transição do xiismo zaidita para o sunita foi uma transição cheia de assimilações, segundo o Majmu 'al-Fiqh que contém os ensinamentos de Imam Zaid Ibn Ali diz que a escola de pensamento Zaid tem uma abordagem única dentro da jurisprudência xiita, que tem muitas semelhanças com a escola Hanafi de pensamento do Islão sunita, pois não podemos deixar passar por despercebido o fato que Abu Hanifa, fundador da escola Hanafi foi aluno do 6º grande Imam xiita, Jafar Al Sadeeq. 

Hoje outras tradições que começaram com os xiitas de até mesmo outras correntes xiitas tomam lugar entre a população sunita sufista marroquina, como o Mawlid Nabi (A comemoração da data de nascimento do Profeta) que veio do Islão xiita ismaelita durante a dinastia fatímida no Egito, o Mawlid atualmente é praticado não só no Marrocos como em todos os países de maioria sunita e de outras vertentes xiitas como a maior delas, a duodécima que é a maioria entre a população do atual Irã.

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